Viola da terra, Portugal
viola da terra
A viola da terra é o instrumento típico dos Açores. É um cordofone dedilhado do tipo alaúde, no qual se incluem os alaúdes, as guitarras e violas, com cordas paralelas esticadas ao longo de um braço e caixa de ressonância no extremo oposto ao braço. (cf. Luís Henrique)
O dedo polegar e o indicador ponteiam as cordas da viola da terra. De vez em quando, a mão do tocador toca em rasgado. Faz-se silêncio… porque o som da viola da terra preenche o momento e enche-nos de emoção. O som desta Viola é diferente. Mistura a doçura com um som metálico, intenso. O dedo polegar ponteia os primeiros sons da “Saudade” e logo se abre o cortinado roxo, que cobria o coração.
Conhecida também como a Viola dos dois corações, este instrumento, de doze ou quinze cordas, faz parte família das violas de arame. Há quem diga que estes dois corações, virados de costas, são símbolo do amor impossível, imagem reforçada pela linha umbilical que os une num losango ou lágrima.
A qualidade de uma Viola depende da arte do seu construtor e da sonoridade que o tocador consegue arrancar ao toque ou pancada da mão. A sua forma em oito, recorda o corpo humano, não fossem os lados designados por “ilhargas”, a escala de “braço” e a abertura no tampo, de “boca”.
Rafael Carvalho, professor de “viola da terra” no Conservatório de Ponta Delgada, orgulha-se de ensinar no único estabelecimento de educação musical do país, onde, desde 1982, se aprende a tocar numa Viola de arame.
Antes, quase todos aprendiam de ouvido, mas chegou-se a temer que se perdesse esta tradição, por falta de quem tocasse e, sobretudo, por falta de quem quisesse aprender. Em São Miguel, valeu a mestria de uns poucos, como o Sr. Carlos Quental da Maia, e a paixão de alguns jovens por esta sonoridade, para recuperar o gosto e o interesse pela viola da terra.
Se antes não havia festa sem viola da terra, hoje os grupos folclóricos precisam de músicos, para poderem dançar as modas tradicionais, à semelhança dos nossos antepassados, que armavam um balho no fim da desfolhada, numa dominga do Espírito Santo ou pelo dia do padroeiro.
O som da viola da terra liga as letras às danças, as pessoas à comunidade. Mas, hoje a sua sonoridade pode ser explorada em outro tipo de peças musicais, como acontece no Conservatório.
Hoje, fruto do empenho e da paixão de alguns músicos, a Região possui uma Associação que promove a viola da terra, tem tocadores em quase todas as ilhas e existem jovens construtores de instrumentos de excelência.
A viola da terra não é uma Viola qualquer. Ouvir o som deste instrumento é sentir o amor à terra. Tanto “canta” alegremente uma Chamarrita do Pico ou um Balho Furado de São Miguel, como “chora” a Saudade ou os Olhos Negros da Terceira.
Esta Viola é da terra, porque é do nosso povo, das nossas gentes. Por isso, está presente no Brasil ou em Cabo Verde porque, para onde fosse um açoriano, lá ia a viola da terra, como tão bem pintou Domingos Rebelo no quadro “os emigrantes”.
Há que homenagear quem nunca desistiu de tocar e de ensinar a arte da viola da terra. Mas esta não pode ser a paixão de um músico, mas o dever de uma região em defender e promover o património cultural que a define e identifica. Não podemos deixar que as nossas tradições corram o risco de desaparecer, por falta de quem as transmita.
A viola da terra, presente em todas as ilhas, é um traço do ser açoriano, uma sonoridade que nos irmana na mesma Cultura, destruindo barreiras e bairrismos.
A música é uma linguagem universal, que une na diversidade e aproxima na distância.
Piedade Lalanda, artigo publicado na sua página do Facebook e no Açoriano Oriental.
Situa-se no índice 32 do sistema Hornbostel-Sachs de classificação de instrumentos. É um cordofone composto, instrumento de corda que tem caixa de ressonância como parte integrante e indispensável.
2 de outubro é o Dia da viola da terra, a Viola de Dois Corações.
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