Conque, França
Conque é a designação francesa de búzio, usado há milhares de anos em França e outros países do mundo, como instrumento de comunicação.
Se as conchas grandes de búzio são ainda hoje utilizadas como instrumentos musicais em diversas regiões, como o Pacífico, as Caraíbas, a Ilha da Madeira, a sua utilização no Paleolítico nunca tinha sido demonstrada. Em 2021 foi noticiado que os cientistas fizeram pela primeira vez ouvir o som do mais antigo búzio musical encontrado na Europa, um objeto com 18000 anos proveniente da gruta de Marsoulas (Pirinéus, França).
Este verdadeiro tesouro encontrava-se nas reservas do Muséum d’Histoire Naturelle de Toulouse. Este búzio de 31 centímetros de comprimento, descrito como “vaso de água” aquando da sua descoberta em 1931 na gruta pintada de Marsoulas, revela agora a sua verdadeira natureza aos arqueólogos. Longe de servir de vaso, este búzio da família do Charonia lampas, molusco que se encontra ainda hoje no Golfo da Gasconha, revela-se como instrumento de sopro. É assim o primeiro búzio musical alguma vez identificado do período paleolítico, um objeto contemporâneo da ocupação da gruta ornamentada dos Pirinéus, há 18000 anos, pelos homens do Magdaleniano.
O mais antigo instrumento de sopro conhecido é uma flauta de osso datada de 40000 anos.
Durante um inventário do material recolhido nas escavações arqueológicas, a maioria mantida no Museu de Toulouse, os cientistas ‘redescobriram’ e estudaram as possíveis funções da concha, que apresentava a ponta cortada formando um orifício com 3,5 centímetros de diâmetro.
“Tratando-se da parte mais dura da casca, o corte claramente não foi acidental, enquanto na extremidade oposta a abertura da concha mostra entalhes e uma tomografia revelou que uma das primeiras voltas da concha”, refere um comunicado do CNRS sobre o estudo da concha.
A concha tinha também vestígios de ter sido decorada com hematite, um pigmento vermelho, à base de óxido de ferro, característico das decorações da caverna de Marsoulas, o que indica o estatuto de objeto simbólico.
Como a abertura é irregular e coberta por um revestimento, os investigadores presumem que um bocal teria sido colocado no orifício, como é o caso de conchas mais recentes guardadas na coleção do Musée du Quai Branly – Jacques Chirac.
A primeira datação por carbono 14 de objetos encontrados na caverna, realizada num pedaço de carvão e num fragmento de osso de urso do mesmo período arqueológico da concha, forneceu uma data de cerca de 18.000 anos.
Até hoje, apenas flautas foram descobertas em contextos anteriores do Paleolítico Superior europeu; as conchas encontradas fora da Europa são “muito mais recentes”.
Fontes: CNRS Le Jounal, L’Union, Rádio Comercial
Philippe Walter acredita que o instrumento pode produzir muitas outras notas mas afirma que esta pesquisa não permitirá descobrir que música ouviam os magdalenianos.