Instrumentos musicais de todo o continente africano

Viola Bimbá

por Lúcio Neto Amado

Um dos instrumentos musicais que ainda se toca em São Tomé e Príncipe é a «Viola Bimbá», instrumento desconhecido por alguns cidadãos. É provável que num curto espaço de tempo esse instrumento e os seus tocadores deixem de existir. Neste momento existem no território nacional apenas dois intérpretes de avançada idade que tocam esse raro instrumento. São eles o mestre Acácio «Viola Bimbá» e o mestre N’Dofli. O mestre Acácio, cujo nome completo é Acácio Rosa Barbosa Neto, vulgo Catche, tem também outros pseudónimos tais como, Acácio «Rosa Viola», Acácio «Rosa» e simplesmente, Acácio «Viola». Começou a tocar aos 17 anos de idade. Ele também toca Viola acústica e foi membro do conhecidíssimo Tlundu (carnaval em língua forro) Cavú.

A Viola bimbá é um instrumento constituído por um arco com um fio (de nylon) que fica encostado a uma varinha do lado direito do tocador e uma faca pequenina na outra extremidade (lado esquerdo). O fio toca ligeiramente os lábios do tocador.

O som da Viola bimbá é produzido através de batidas ligeiras da varinha no fio. O músico toca e canta, criando variações do som com movimento ligeiro dos lábios no fio. É um instrumento que poderá ter a sua origem na África oriental, justamente, em todo o território moçambicano.

É provável que esse instrumento musical adoptado pelos são-tomenses tenha sido trazido a São Tomé e Príncipe pelos contratados moçambicanos, que vinham trabalhar para as roças.

O tocador canta e toca, emitindo dois sons extraídos da varinha. Esta é uma actividade que se desenrola, geralmente num quixipá, local de diversão onde o tocador é capaz de alimentar uma festa durante toda a noite até ao amanhecer.

Antigamente esses tocadores actuavam nas festas realizadas nas roças, nos grandes quintés e nos aglomerados familiares são-tomenses, considerados poderosos. Hoje este tipo de convívio é designado de festa de amigos secretos. É um ritual antigo que parece estar-se a recuperar.
A festa era realizada às sextas-feiras, sábados e domingos. Cada membro dessa «sociedade» montava a sua barraca [quixipá] no local escolhido e realizava-se este grande convívio. A festa era animada pelo tocador da Viola bimbá.

Lúcio Neto Amado

(início do século XXI)

Viola bimbá, São Tomé e Príncipe

Viola bimbá, São Tomé e Príncipe

Instrumentos da Guiné Equatorial

A música da Guiné Equatorial é rica e diversificada, refletindo as várias etnias do país, como os Fang, Bubi e Ndowe. Os instrumentos musicais tradicionais são predominantemente feitos de materiais naturais provenientes da floresta.

Isabela Aranzadi publicou em Espanha, em 2009, o livro “Instrumentos Musicales de las Etnias de Guinea Ecuatorial”, numa edição da Apadena. Este livro nasce em coordenação com um projecto museológico que se traduziu na mais completa exposição até hoje realizada sobre o tema, daí as diversas abordagens que introduz e as diferentes perspectivas pelas quais pode ser lido.

Instrumentos de percussão

Idiofones e membranofones

A percussão é um elemento central na música equato-guineense.

tambores

(membranofones)

Existem tambores cobertos com pele de animal ou decorados com desenhos de animais.

Um exemplo é o tam-tam (ou nkúú entre os Fang, mpfhul entre os Bisío, ou ukulu entre os Ndowe), uma caixa de madeira coberta com pele de animal.

O kunkí (tambor quadrado e grande com duplo aro e pernas) é mencionado entre os Creoles/Fernandinos e o kunké entre os Bubi em Bioko.

Existem os tambores de fenda (tambores de tronco escavado), muito importantes na comunicação e em rituais.

Tambores de fenda, Guiné Equatorial, créditos Virgílio Brice

tambores de fenda, Guiné Equatorial, créditos Virgílio Brice

Xilofones

Idiofones

Instrumentos melódicos feitos de madeira e cordas, mas que produzem um som metálico. São frequentemente usados em orquestras tradicionais que acompanham danças como o balélé.

Outros idiofones

Sanza

(piano de dedos de bambu)

É um lamelofone onde se tocam lamelas de bambu com os dedos.

Instrumentos de cordas

(Cordofones)

Harpa, Guiné Equatorial

Harpa, Guiné Equatorial

Harpa arco

É um tipo de harpa simples, comum no acompanhamento de certas danças e cantos.

Cítara

Outro tipo de cordofone tradicional encontrado na música local.

Instrumentos de sopro

(Aerofones)

Trompete de sopro lateral

Um exemplo é o trompete dos Fang e Beti, um instrumento de sopro lateral.

Em geral, os instrumentos são essenciais para acompanhar as diversas danças e rituais do país, sendo o balélé uma das danças tradicionais mais representativas, frequentemente acompanhada por um pequeno conjunto de sanza, xilofone, percussão, cítara e/ou harpa arco.

Instrumentos de Cabo Verde

A música de Cabo Verde é mundialmente famosa pela sua melancolia e alegria, refletidas nos géneros como a Morna, a Coladeira e o Funaná.

Os instrumentos tradicionais cabo-verdianos combinam uma forte influência europeia (principalmente portuguesa) no uso de cordofones com inovações locais em idiofones.

Instrumentos de corda

(Cordofones)

Os instrumentos de corda, oriundos da Europa, são a espinha dorsal da Morna e da Coladeira, mas foram adaptados à cultura local.

Violão (guitarra)

O violão clássico, conhecido em Cabo Verde (tal como no Brasil e em algumas regiões de Portugal) por violão. É o instrumento de acompanhamento mais importante para a Morna e a Coladeira, fornecendo a harmonia e a base rítmica.

Viola

As violas de 10 ou 12 cordas (cinco ou seis cordas duplas) são também muito utilizadas. São menores que o violão e podem ter orifícios no tampo em forma de corações.

Cavaquinho

Um cordofone dedilhado, mais pequeno que o violão e que terá chegado a Cabo Verde através de Portugal. É particularmente popular, sendo o instrumento que, tal como a concertina em Portugal, se tornou um símbolo da música popular cabo-verdiana. É usado na Morna e na Coladeira.

Violino (rabeca)

O violino é tradicionalmente chamado rabeca. É usado como instrumento melódico e de acompanhamento em muitos géneros tradicionais.

Cimboa (ou cimbó)

É um cordofone de arco, considerado um dos primeiros instrumentos de corda a chegar a Cabo Verde e que tem uma herança africana. É um alaúde monocórdico (de uma corda), com uma cabaça (buli) ou coco como caixa de ressonância, coberta com pele de cabra, e a corda feita com crina de cavalo. É um instrumento que esteve em vias de extinção, mas que tem sido alvo de esforços de recuperação cultural, sendo tradicionalmente usado para acompanhar o Batuque.

Cimboa, Cabo Verde

Cimboa, Cabo Verde

Instrumentos de Percussão e Ritmo

(Idiofones e Aerofones)

Ferrinho (ou ferrinhu)

Um idiofone de raspagem (tipo reco-reco), feito com uma barra de metal (geralmente ferro) de cerca de 90 cm, que é rascada por um objeto metálico. O músico segura a barra verticalmente, apoiada numa mão e no ombro. É o instrumento rítmico principal do Funaná, marcando o ritmo rápido e enérgico, muitas vezes em conjunto com a gaita.

Gaita (acordeão/concertina)

O acordeão (ou concertina) é conhecido em Cabo Verde como Gaita. É o principal instrumento melódico no Funaná, sendo geralmente tocado em conjunto com o ferrinho.

tambores

Vários tipos de tambores (membranofones) são utilizados, especialmente em géneros como o Batuque e a Tabanca. Instrumentos de origem africana, como o bombolom e o dondom, continuam a existir mas com pouco uso.

Flauta, saxofone, clarinete e trompete

Estes instrumentos de sopro (aerofones) são comuns e integraram-se na música popular e orquestral, sendo usados em vários estilos. A combinação destes instrumentos permite a Cabo Verde navegar entre a doçura e nostalgia da Morna (dominada pelos cordofones) e a vivacidade e energia do Funaná (liderada pela gaita e o ferrinho).

Alma do povo cabo-verdiano

Em 2022, “o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, através da Portaria nº50/2022 de 18 de Outubro, considerou este instrumento como a alma do povo cabo-verdiano, sendo a sua elevação um passo importante para a continuação da sua salvaguarda e valorização.

“O Governo de Cabo Verde tem trabalhado no resgate e na recuperação do património cultural imaterial, conferindo uma nova centralidade, colocando-o, novamente, na convivência e no dia-dia dos cabo-verdianos”, realçou, lembrando que o processo da sua elevação vem acontecendo com vários elementos da cultura ao qual a Cimboa também faz parte.

Como medida de proteção, o Ministério da Cultura afirmou que cabe ao Instituto do Património Cultural (IPC) a criação e dotação de um plano de salvaguarda emergencial, visando a sua salvaguarda, nomeadamente a elaboração de um plano estratégico de valorização de detentores e a garantia da sustentabilidade do bem classificado, no seu contexto histórico e sociocultural.

Na atualidade, sublinhava o comunicado, poucos são os tocadores e fabricantes de Cimboa, entre os quais se destacam, o seu mais velho tocador e fabricante, Tomás Mendes Cabral, Nhu Eugenio Mendi, de 83 anos de idade, nascido em 1936, em Chão de Junco, que se interessou pela cimboa e aprendeu a fazê-la com o já falecido Amâncio Borges, mais conhecido por Toi di Palu, da localidade vizinha, Mato Brasil.

Outro exímio tocador e fabricante, recordou o Governo, é Domingos da Ressurreição Andrade da Silva Fernandes, Pascoal, de 62 anos, ex-militar, natural de Serradinho, em São Domingos, que teve como mentor, já aos 46 anos de idade, o mestre Manu Mendi, Pedro Mendes Sanches Robalo, falecido em 2008.

Realçou ainda Arlindo Sanches, filho do antigo tocador, Banda, Roque Sanches, Mário Lúcio Sousa e Gil Moreira como percursores que vêm mantendo viva a tradição da cimboa, instrumento que paulatinamente tem caído em desuso pela sua pouca utilização enquanto instrumento de solo.

“Em 2022, através do financiamento do projeto ´Cimboa – património para o desenvolvimento sustentável´, subvencionado pelo PROCULTURA – PALOP-TL, promoção do emprego nas atividades geradoras de rendimento no sector cultural nos PALOP e Timor-Leste, foi possível realizar o inventário deste bem, tendo-se chegado à conclusão da necessidade da sua salvaguarda urgente”, lê-se no documento.

Como medidas de salvaguarda urgente, acrescentou, foram realizadas ações de capacitação em confeção e execução musical agendadas para o decorrer dos anos 2022/2023, além da criação do centro interpretativo da cimboa, enquanto componentes do plano de salvaguarda urgente do bem.

Fonte: Inforpress

Instrumentos da Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau possui uma ricane diversificada tradição musical, fortemente ligada à cultura Mandinga, Fula, Balanta e de outras etnias da África Ocidental. Os seus instrumentos musicais, muitos dos quais partilhados com países vizinhos, são fundamentais no acompanhamento de cerimónias, danças (como o popular Gumbé) e no trabalho dos Griôs (contadores de histórias e guardiões da história oral).

Instrumentos de corda

Kora

Kora (ou corá) é a rainha dos instrumentos de corda da África Ocidental. É uma harpa-alaúde com 21 cordas, feita com uma grande cabaça (como caixa de ressonância) coberta com pele de vaca. É tocada tradicionalmente pelos Griôs (ou Djélis) Mandingas, que a utilizam para contar histórias épicas, genealogias e canções de louvor. É um instrumento melódico e muito virtuosístico.

Violão de 3 cordas

Instrumento de corda local, com apenas três cordas, é usado no acompanhamento de canções.

Instrumentos de percussão

(membranofones e idiofones)

A percussão é o coração do ritmo guineense, com uma grande variedade de tambores

Bombolom

É um idiofone de percussão direta (tambor de fenda), escavado a partir de um tronco de árvore (bissilon). Pode ter cerca de 1,5 m de comprimento. É percutido com baquetas e o som varia consoante o lado. É um instrumento ritual, sobretudo tocado por homens mais velhos, e requer uma pequena cerimónia para ser deslocado. É um instrumento de altura indefinida.

Djembê

(Tambor)

Um membranofone em forma de cálice, com corpo de madeira e pele natural tensionada, produz uma vasta gama de sons. Tocado com as mãos, é fundamental para o ritmo em muitas culturas da África Ocidental e muito importante na Guiné-Bissau.

Tina

Uma grande cabaça usada como caixa de ressonância, percutida com a palma da mão, produz um som grave e intenso. Desempenha o papel de marcar o baixo na secção rítmica do género musical Gumbé (similar a um bombo).

Dundun

Dundun, ou doundoun, é um tambor cilíndrico, geralmente de duas peles, percutido com baquetas. É um tambor de acompanhamento, crucial para manter a pulsação e fornecer a base rítmica para outros instrumentos.

Instrumentos melódicos de percussão

Balafon

Balafon ou balafom é o precursor do xilofone. Consiste numa série de teclas de madeira (lamelas) de diferentes tamanhos, dispostas sobre cabaças que funcionam como ressonadores. É tocado com duas baquetas almofadadas, e o conjunto ideal pode ser composto por três balafons (baixo, acompanhamento e solo). A sua afinação e técnica de tocar podem imitar os timbres e tonalidades da língua falada, sendo um instrumento de grande importância cultural.

Instrumentos de sopro

(aerofones)

Flauta

Feita tradicionalmente com cana de bambu, é utilizada em diversos contextos musicais.

Chifre

Instrumento feito com corno de animais (gazela ou vaca), funciona como uma trompa, sendo usado para sinais ou efeitos sonoros.

Calitó

Um tubo transversal feito com o caule do milho.

A música guineense, com esta instrumentação, reflete a sua diversidade cultural, sendo o Gumbé um dos géneros mais populares que agrupa vários estilos folclóricos e tradicionais do país.

Festival de Kora em Portugal

O primeiro festival de Kora em Portugal —Kora Fest— realizou-se na Fábrica do Braço de Prata,em 2019. Do programa faziam parte concertos, workshops para miúdos e graúdos e a estreia de um documentário sobre a história da harpa africana.

A Kora é um instrumento musical africano — uma harpa de 21 cordas — que ganhou popularidade durante a descrição de grandes batalhas ou acontecimentos na região do Rio Gâmbia, na Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali e Senegal.

Segundo o korista Mbye Ebrima, “A Kora é o mais importante instrumento de África Ocidental, é usado para comunicação e a gente de Portugal está a entender agora a conexão promovida por este som, que é física, mas também espiritual”.

Koras

Koras

Fonte: Gerador

Instrumentos de São Tomé e Príncipe

Em São João dos Angolares, existe uma oficina que realiza um trabalho de reparação, fabricação de instrumentos musicais e formação que pode vir a tornar-se de grande importância para o país: a Zângoma.

O projeto “Instrumentos musicais de São Tomé e Príncipe: pesquisa e formação”, realizado por Manga-Manga, Agro N’Golá e João Carlos Nezó, foi cofinanciado pelo DIVERSDIDADE – Instrumento de financiamento para a diversidade cultural, cidadania e identidade no âmbito do PROCULTURA, ação financiada pela União Europeia, cofinanciada e gerida pelo Camões, I.P. Instrumento gerido em parceria com a EUNIC – Rede de Institutos Culturais e Embaixadas da União Europeia.

Nando Fonseca comentou na página oficial da Zângoma: “O tambor não é apenas madeira e pele — é memória viva. Cada batida é uma oração, cada ritmo uma ponte entre mundos. Em São Tomé e Príncipe, especialmente entre os Angolares, fabricar tambores é mais do que arte: é reconstruir a alma do povo. Que esta iniciativa seja reconhecida como sagrada — pois o tambor fala com os ancestrais, cura os esquecidos e desperta os jovens. Num tempo em que muitos se perdem nos ecrãs e no consumo, o som do tambor chama-nos de volta à nossa origem. Parabéns por manter viva a vibração que conecta o céu e a terra. Que estes instrumentos ecoem por toda a África — transformando a dor em luz.”

Chocalho da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

chocalho da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

Tambores da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

tambores da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

Instrumentos da Oficina Zângoma, São Tomé e Príncipe

Instrumentos da Oficina Zângoma, São Tomé e Príncipe

Tambores da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

tambores da oficina de instrumentos Zângoma, São Tomé e Príncipe

Instrumentos da oficina Zângoma, São Tomé e Príncipe

Instrumentos da oficina Zângoma, São Tomé e Príncipe

Percussão

A percussão desempenha um papel central na música santomense, com vários tipos de tambores.

Huémbé / Zambumba / bombo

tambores de dimensão grande, geralmente com duas peles pregadas, produzem um som grave. O Zambumba mede cerca de 0,65m de diâmetro.

Léplica

Tambor de dimensão pequena (com duas peles), é responsável por um som mais agudo.

Tabaque

Tambor de tamanho médio, pode ter apenas uma pele amarrada (em vez de pregada). É um instrumento que se admite ter sido introduzido por escravos africanos, nomeadamente senegaleses.

Mussumbá

bombo de tamanho menor do que o zambumba, em franco desaparecimento.

Instrumentos de sopro

Pitu dóxi

Flauta tradicional simples, é um apito tipicamente feito de bambu.

Apito duplo, São Tomé e Príncipe

apito duplo, São Tomé e Príncipe

Conéta Pó Mamon

Instrumento de sopro peculiar, é feito a partir de um ramo do mamoeiro (corneta de pau-mamão). O seu som assemelha-se ao de um trombone ou trombeta e é frequentemente usado em géneros como o Socopé e o Ússua.

Instrumentos de corda

Bimbá

Instrumento de corda tradicional em vias de extinção, é formado por um arco com um fio que é tocado em contacto com os lábios do músico.

Viola, Bandolim, violino

Instrumentos de corda de origem europeia foram introduzidos durante o período colonial e rapidamente se integraram nos conjuntos musicais tradicionais, como os grupos de Ússua e outros.

Outros instrumentos

Canzá

Canzá é um idiofone de fricção (semelhante ao reco-reco), feito de bambu ou de rama de coqueiro. Tem provável origem nos povos Bantu.

Ferrinho

É feito de uma chapa de zinco e dois ferros (não costuma ultrapassar 25 cm). O Ferrinho é percutido para criar ritmo, sendo um instrumento sem altura definida.

Nguipá

Uma espécie de canoa em miniatura, feita escavando um tronco de madeira e cobrindo-o parcialmente.

Instrumentos e bandas

por Lúcio Neto Amado

Vários foram os instrumentos musicais utilizados pelas bandas, pelas tunas e pelos conjuntos ao longo dos tempos. Assim damos a conhecer o nome e a descrição de alguns desses instrumentos, a partir da recolha feita por Fernando Reis (1969) e Carlos Santo (1998), a saber:

1. Huémbé (bombo) – É um bombo de duas peles e mede de diâmetro 0,4 a 0,55 m;

2. Léplica (tambor) – É um tambor que tem igualmente duas peles;

3. Pitu dóxi (apito) – É uma flauta feita de bambu;

4. Canzá – É feito de bambu ou rama de coqueiro. A origem provável deste instrumento provém dos povos de origem Bantu, principalmente Angolanos que demandaram São Tomé e Príncipe;

5. Zambomba (bombo) – É um bombo de duas peles e mede de diâmetro 0,65m;

6. Mussumbá – Em franco desaparecimento, é um bombo de tamanhos menores aos do zambomba;

7. Tambolo (tambor) – Este instrumento serve para aquecer as festas e é feito de duas peles;

8. Tabaqui (tambor) – É também um tambor, que mede de diâmetro cerca de 0,2 m e é feito de uma só pele. Admite-se que este instrumento tenha sido introduzido em São Tomé e Príncipe pelos escravos africanos, principalmente senegaleses;

9. Malimboqui – É um instrumento que se constrói do seguinte modo: depois de se ter apanhado no obó o fruto de malimbóqui, extrai-se os seus resíduos internos. É posto a secar ao sol e em seguida deita-se no interior grãos de quiabos;

10. Sacaia (cabaça) – É uma cabaça repleta de grãos de salaconta18;

11. Nguené – É uma imitação de guitarra dos angolanos, formato de flecha, apoiado num pedaço de cabaça;

12. Conéta Pó Mamon (Corneta de pau-mamão) – O som assemelha-se ao do trombone; um dos vários instrumentos utilizados no socopé e é feito de um ramo de mamoeiro;

13. Bandolim, Viola, Violino, Flauta, N’gaeta (gaita de beiços) – Estes instrumentos foram introduzidos nas Ilhas ao longo da colonização.

A origem provável desses instrumentos é a Europa, a Índia e os países árabes.

É de salientar, contudo, que as autoridades coloniais tinham proibido a utilização de alguns desses instrumentos em público e em privado. Acerca dessa proibição o governador-geral da ilha do Príncipe (1807)19 é peremptório quando, utilizando una nota como instrumento com força de
lei, determina e manda publicar o seguinte:

Ordeno que dentro da cidade se não possa tocar batuques, nem qualquer instrumento rústico que cause detrimento e incómodo ao povo, nem se possam fazer danças ao som de bastões, ou pancadas em paredes, cadeiras ou mesas, ficando desde agora por diante prohibidas todas as danças rústicas dentro da cidade depois do toque de recolher, e tudo isto debaixo das penas impostas a meu arbítrio”.

Conjuntos no Arquipélago

por Lúcio Neto Amado

A história dos conjuntos musicais são-tomenses perde-se no tempo. É uma história contada, ao pôr-do-sol, pelos anciãos [que constituem uma autêntica biblioteca], prática que ainda continua a fazer fé nos «compêndios» da nossa memória colectiva. São momentos em que ouvimos falar de conjuntos já extintos e cantamos as músicas mais emblemáticas que os celebrizaram num tempo e num espaço que não propriamente o nosso.

Os conjuntos musicais do arquipélago de São Tomé e Príncipe surgiram, grosso modo, no decorrer do século XIX, arregimentados, inicialmente, como bandas filarmónicas, evoluindo posteriormente para agrupamentos musicais, grupos musicais, tunas e conjuntos musicais.

Os missionários desempenharam um papel fundamental na implementação do ensino e divulgação da música em São Tomé e Príncipe a partir da segunda metade do século XIX.

O «Boletim Official do Governo de S. Thomé e Príncipe», que saiu a lume a 3 de Outubro de 1857, traz uma Portaria Real, assinada em Lisboa a 9 de Janeiro de 1857 por Sá da Bandeira, que faz referências ao trabalho desenvolvido pelo Padre João Constantino de Melo, Vigário da Igreja da Conceição, relativamente a actividade desenvolvida por esse missionário no sector do ensino e pro
moção cultural de S. Tomé.

Para além da introdução de disciplinas como o francês e outras, o Padre João Constantino de Melo anuncia também como prioritária a fundação de uma Academia Musical pois, “(…) falla-se em instituir aqui uma associação d’esta natureza, que se encarregará de mandar vir de Lisboa um professor de música, para se organizar uma filarmónica. Ainda se vai mais adiante a associação terá também um Theatro, dizem”.

Contudo, alguns estudiosos da história são-tomense assinalam que o primeiro conjunto musical de São Tomé e Príncipe terá surgido nos finais do século XIX em 1883.

A internacionalização dessa banda terá sido dois anos mais tarde, aquando da sua participação num evento musical organizado na Europa.

A este propósito, António Ambrósio relata que é “… de assinalar, por exemplo, o caso do Padre Luís José da Silva fundador da primeira banda de música de S. Tomé e que na Exposição de Antuérpia, em 18854, conseguiu tão elevado êxito internacional”.

É ainda de Ambrósio o relato que aponta o Monsenhor e Cónego José Simões da Siva5 (1880-1891) como sendo um missionário do Real Colégio de Cernache do Bonjardim que desembarcou em S. Tomé em 1880. Empenhou toda a sua vida na restauração da Diocese e no desenvolvimento cultural do povo santomense, nomeadamente no campo do Ensino nas Escolas. A ele, e ao seu colega Luís José da Silva, se deve a fundação da primeira Banda de Música de S. Tomé e Príncipe, que tantos aplausos recolheram em Antuérpia em 1885 e cuja instituição está ainda na base da actual cultura santomense. António Ambrósio conclui que “(…) se como simples missionário prestou magníficos serviços não só fundando com o seu colega, Luís José da Silva, a música indígena de S. Tomé, mas ainda concorrendo com o seu operoso zelo para o brilhantismo das festas realizadas na mesma cidade…”.

Outros missionários ajudaram a reorganizar, no início do século XX, Bandas de Música surgidas ainda na segunda metade do século XIX. A Vila da Trindade parece estar na vanguarda dessas iniciativas de carácter cultural desenvolvidas pelos sacerdotes. São dignas de menção as seguintes prestações dos missionários, de acordo com a descrição feita por António Ambrósio:

– Padre António Pires Marques (1899-1967). Foi um sacerdote [Superior Maior da «Missão Católica» da Trindade] que desenvolveu um trabalho notável no âmbito da assistência social e “… ficou-se-lhe a dever a reorganização da Banda de Música que ele próprio ensaiava e dirigia…”.

– Padre Manuel Joaquim Esteves (1908-1967). O texto diz que “… seja-nos permitido destacar, na Trindade, a reorganização da Banda de Música que ele próprio ensaiava e dirigia…”.

– Padre António Vieira Fernandes (1917-1971). Nomeado Pároco da Vila da Madalena, que, no entanto residia na Vila da Trindade, onde “… aqui, dirigiu, durante cerca de dois anos, a Banda de Música…”.

Outros agrupamentos musicais que foram surgindo ao longo do século XX tiveram igualmente grandes êxitos nas ilhas e também fora de portas.

As suas actuações, cujas datas não são precisas, foram realizadas em cidades como Paris [a convite do Príncipe Regente de Portugal D. Luís Filipe] e Viena de Áustria. O início do século XX terá sido, provavelmente, a época da massificação musical, altura em que começaram a surgir, um pouco por todo o lado, agrupamentos musicais, no quadro da evolução histórico-cultural e de uma nova conjuntura com o início do novo século.

Na ilha do Príncipe, os grupos musicais surgiram, “… nos princípios dos anos 30 do século XX….//… Os grupos musicais mais destacados da época, eram; Luz Africana, Estrela Azul, Grupo Musical do Sporting e Grupo Musical de Benfica”. Silvestre de Barros Umbelina sublinha que estes agrupamentos musicais estavam associa dos aos clubes desportivos existentes naquela época.

É provável que esses grupos musicais estivessem para a ilha do Príncipe, tal como os conjuntos Uémbé e Buzilense, estavam para a ilha de São Tomé. Na década de 60 e 70 do século XX, conjuntos como “Os Untués”, “Mindelo”, “África Negra”, “Os Leonenses”, actuaram em Lisboa e em Luanda, demonstrando um trabalho de qualidade, feito por indivíduos voluntariosos e amadores que não tinham qualquer formação musical, constituindo esse facto um grande bloqueio à conservação e posterior evolução da música são-tomense, pois é através de uma escola ou de uma academia de música que se consegue aprender com rigor, perpetuando e transmitindo a outras gerações a grandiosidade da música, tocada e apreciada nas ilhas.

É de salientar que entre 1920 e 1969 os elementos dos conjuntos musicais são-tomenses sabiam todos ler e tocavam através de pautas. Os elementos da banda da polícia, que tinham um estatuto paramilitar, são os únicos que até à presente data aprendem a ler, com rigor, as pautas musicais para actuarem em desfiles militares e procissões, seguindo uma prática tradicional antiga.

Nos finais de 1960 o conjunto “Leonino”, dirigido por Quintero Aguiar, era dos poucos que ainda tocavam utilizando pautas musicais, um feito nunca mais conseguido por gerações que os sucederam. A aprendizagem era feita, através dos músicos que integravam as bandas de música da polícia, as bandas musicais dos missionários católicos residentes nas ilhas e também por autodidactas, estudiosos e outros músicos amadores são-tomenses, [fruto da carolice] mais persistentes.

O panorama de formação dos músicos não é melhor na actualidade: “… regra geral, pode apontar-se aos conjuntos musicais em actividade, para além das insuficiências aduzidas, algumas outras que lhes condicionam sobremaneira o trabalho:

– Falta de equipamentos e má qualidade dos existentes.

– Ausência de formação específica. – Baixo nível académico e cultural.

– Insuficiente nível de audição de música de qualidade produzida externamente.

– Empirismo absoluto na utilização dos equipamentos, em particular no que se atém à selecção de sons e dos instrumentos a utilizar por cada género musical.

– Despreocupação face à investigação e estudo da música.

– Ausência de intercâmbio com o exterior.

– Fraco nível cultural da própria sociedade, despida dos meios consubstanciadores da massa crítica nos seus diversificados domínios”.

Lúcio Neto Amado

Fontes

Albertino Bragança (2005) “A Música Popular Santomense”, Edição da UNEAS (União Nacional dos Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe), 1.ª edição

António Ambrósio (1984), “Subsídio para a História de S. Tomé e Príncipe”, Livros Horizonte, Lisboa, Portugal.

Fernando Reis (1969) “Pôvô Flogá – Povo Brinca”, Folclore de São Tomé e Príncipe, Edição da Câmara Municipal de São Tomé.

Silvestre de Barros Umbelina (2012) “O Percurso da Ilha do Príncipe”, 1.ª Edição, São Tomé e Príncipe

Catreba

A catreba (também conhecida como treba no Barlavento ou matraca em Santiago, Cabo Verde) é um idiofone de fricção, o que significa que o som é produzido pela vibração da sua própria matéria. É um instrumento musical composto por uma placa de madeira retangular, uma roda dentada numa das extremidades e uma pequena lingueta de madeira flexível que raspa na roda dentada. Ao ser rodado, a lingueta raspa nos dentes da roda, produzindo o som característico. Antigamente, a catreba era utilizada nas celebrações da Páscoa e da Pascoela, em particular na quarta-feira chamada de “treva”.

O termo “matraca” também é usado para designar um instrumento semelhante, com argolas de ferro, que era usado em substituição do sino durante o “enterro” de Cristo na Sexta-Feira Santa.

Catreba, Cabo Verde

Catreba, Cabo Verde

 

Txabeta

A txabeta, também conhecida como panos, é um idiofone de percussão direta essencial no Batuku cabo-verdiano. É um instrumento improvisado que consiste num pano enrolado, colocado entre as coxas da tocadora (normalmente uma mulher) e percutido com as mãos abertas.

Originalmente, utilizava-se o pano d’obra (tecidos feitos em tear manual) que as mulheres atavam à cintura. Para aumentar a sonoridade, o pano passou a ser envolvido em sacos de plástico.

Atualmente, é envolvido em pele sintética (a usada para forrar sofás) e fixo num suporte para melhor encaixe entre as coxas da executante. As palmas e o bater das mãos (txabeta) nas coxas das mulheres criam o ritmo base do Batuku. Embora alguns grupos mais recentes usem o djembê, o pano/txabeta é o instrumento tradicional deste género musical.

Fonte: Cabo Verde a Música Online

Txabeta, Cabo Verde

Txabeta, Cabo Verde

Pilon com colexas

O pilon com calexas é um idiofone percutido constituído por um pilão geralmente de madeira e um par de paus (colexas) usados na Ilha do Fogo nos festejos de São Filipe, no inicio do mês de maio. Normalmente, o pilon é executado por três pessoas (em geral mulheres) que batem com paus maiores no interior do pilão que contém milho para fazer o xerém, enquanto dois homens, cada um com um par de colexas batem no bordo lateral do pilon. À volta, as mulheres e alguns homens acompanham com palmas e cantos enquanto uma solista canta e os outros restantes respondem com um pequeno ostinato rítmico (olé, óle lá).

Fonte: Casa Resistência e Afirmação Cultural

Pilon, Cabo Verde

Pilon, Cabo Verde

Kayamb, aparentado ao chiquitsi, é um idiofone de percussão originário das ilhas Mascarenhas, nomeadamente das Reunião e Maurícias (tamanhos 1º -37,5cm por 34cm ; 2º -41cm por 3,5cm ; 3º-3cm por 30cm ; 4º- 35cm por 2cm). É um instrumento de sacudimento, constituído por uma estrutura plana e retangular, tradicionalmente feita de cana ou bambu, preenchida com sementes, pequenas pedras, contas de vidro ou pedaços de metal.

A estrutura do kayamb é geralmente dividida em compartimentos internos para controlar o movimento dos materiais de enchimento e, consequentemente, o som produzido. Algumas versões podem apresentar ressonadores ou elementos adicionais para modificar o timbre.
O som característico do kayamb é produzido pela agitação do instrumento, fazendo com que os materiais internos colidam uns com os outros e com as paredes da estrutura. O tipo e a quantidade de material de enchimento, bem como o tamanho e a construção da estrutura, influenciam o volume, a textura e o ritmo do som resultante. Pode produzir desde um suave sussurro até um chocalho mais intenso e ritmado.

Na música tradicional das ilhas Mascarenhas, o kayamb desempenha um papel rítmico fundamental, frequentemente acompanhando cantos e danças. É um instrumento essencial em géneros musicais como o séga e o maloya, contribuindo com uma camada percussiva rica e texturizada.

Fonte: Ricardo Lopes, RL Instrumentos Artesanais

O oghene (ou ogene) é um idiofone de percussão originário da África Ocidental, particularmente associado aos povos Yoruba da Nigéria e Benim. É um instrumento relativamente simples na sua construção, mas com um papel rítmico importante na música tradicional e contemporânea da região.

Apresenta como principais características:

Construção: O oghene consiste tipicamente em um, dois ou mais sinos de ferro forjado, de tamanhos diferentes, unidos por uma haste ou alça também de metal. Os sinos não possuem badalo (a peça solta dentro do sino que produz o som ao bater nas paredes).

Produção de Som: O som é produzido ao percutir os sinos com uma baqueta de madeira ou metal. Os diferentes tamanhos dos sinos resultam em tons distintos, permitindo a criação de padrões rítmicos complexos.

Função Musical: O oghene desempenha um papel crucial na estrutura rítmica da música. Frequentemente, estabelece a linha do tempo ou o ciclo rítmico fundamental para outros instrumentos e cantores seguirem. É um instrumento de pulso e clave, marcando os acentos e as subdivisões do ritmo.

Utilização: O oghene é utilizado numa variedade de contextos musicais e sociais, incluindo:
música cerimonial e religiosa: Desempenha um papel importante em rituais tradicionais e cerimónias religiosas Yoruba.

Música de Dança: O seu ritmo vibrante e constante é essencial para acompanhar diversas formas de dança tradicional.

Conjuntos Musicais: É frequentemente integrado em grupos musicais maiores, onde interage com tambores (como o dùndún ou “talking drum”), agogôs (outro tipo de sino duplo), e outros instrumentos de percussão.

Música Popular Contemporânea: O som característico do oghene tem sido incorporado por músicos africanos contemporâneos em diversos géneros.

ETIQUETAS

  • Instrumentos tradicionais da Nigéria
  • Idiofones de metal
  • Instrumentos de campânula
Oghene, idiofone da Nigéria

Oghene, idiofone da Nigéria